
Diante das recentes tensões diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos, autoridades brasileiras têm intensificado esforços para diversificar os parceiros estratégicos e comerciais. No setor de defesa, essa mudança de rota já começa a se materializar com a aproximação de um novo e promissor aliado: os Emirados Árabes Unidos (EAU).
A estratégia do governo brasileiro não é abandonar a cooperação com os Estados Unidos, considerada insubstituível em diversos aspectos, mas reduzir a dependência de produtos e tecnologias norte-americanas, buscando um leque mais amplo de cooperação internacional.
Grupo Edge: R$ 3 bilhões já investidos no Brasil
Entre os destaques dessa nova frente de cooperação está o Grupo Edge, um dos maiores conglomerados de defesa do mundo, com sede em Abu Dhabi. Em menos de três anos de atuação no Brasil, a empresa já:
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Adquiriu 50% da SIATT, especializada em armas inteligentes;
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Comprou 51% da Condor Tecnologias Não Letais, referência global em munições de controle de distúrbios;
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Firmou parcerias com a Marinha do Brasil para o desenvolvimento de mísseis nacionais;
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Construiu uma fábrica no país;
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Assinou acordos com governos estaduais na área de segurança pública.
O total de investimentos já chega à casa dos R$ 3 bilhões.
Defesa nacional com menos dependência externa
A ampliação de parcerias internacionais vem como resposta ao ambiente desafiador no Brasil para investimentos em defesa: baixo orçamento, pouca previsibilidade de recursos e complexidade tributária. Apesar disso, os Emirados Árabes parecem dispostos a encarar o desafio.
Em entrevista à CNN, o CEO do Grupo Edge, Hamad Al Marar, destacou que o distanciamento político entre Brasil e EUA representa uma oportunidade para sua empresa.
“As relações sobem e descem. Estamos oferecendo propostas competitivas, com tecnologia adequada, preços justos e cronogramas viáveis. Isso abre espaço no mercado”, afirmou Hamad.
Segundo ele, a atuação do grupo no Brasil já superou uma abordagem meramente comercial.
“Estamos construindo relações sólidas. A receptividade dos brasileiros tem sido excelente. A credibilidade se prova com o tempo — e acreditamos estar no caminho certo.”
SIATT e Marinha: parceria estratégica na produção de mísseis
Um dos marcos mais relevantes da parceria entre o Brasil e o Grupo Edge é o acordo entre a SIATT e a Marinha do Brasil, para o desenvolvimento conjunto dos mísseis MANSUP (Míssil Antinavio Nacional) e sua versão de longo alcance, o MANSUP-ER.
O contrato inclui:
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Compartilhamento de propriedade intelectual;
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Direitos de modificação, produção e comercialização;
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Possibilidade de exportação, com royalties destinados à Marinha do Brasil.
Essa parceria fortalece a capacidade de produção nacional de armamentos e posiciona o país como um player relevante no setor de defesa na América Latina.
Perspectivas de crescimento na América do Sul
O Grupo Edge também vê o Brasil como porta de entrada para a expansão dos seus negócios na América Latina. A mão de obra qualificada, especialmente engenheiros brasileiros, foi destacada pelo CEO como um diferencial competitivo importante.
“O Brasil está inserido em um contexto regional promissor. A América Latina é um grande mercado e queremos levar nosso modelo de atuação para outros países.”
Além do setor militar, a empresa também visa ampliar a atuação em segurança cibernética, espaço, satélites e segurança nacional.
Conclusão
Em um cenário global de incertezas e realinhamentos geopolíticos, o Brasil aposta em diversificação estratégica na indústria de defesa. Os Emirados Árabes Unidos despontam como parceiros confiáveis e com apetite para investir, trazendo inovação, tecnologia e robustez ao setor.
A parceria com o Grupo Edge representa mais que negócios: é uma mudança de paradigma que pode reposicionar o Brasil como protagonista no desenvolvimento de defesa na América Latina.
Fonte : CNN BRASIL