
O Brasil e os Estados Unidos vêm registrando crescimento na produção de petróleo ao longo do século 21, mas os caminhos trilhados por cada país foram bem distintos. Os americanos já assumiram o posto de maior produtor mundial, enquanto os brasileiros podem enfrentar uma queda acentuada na produção já a partir de 2030.
Projeções do Ministério de Minas e Energia, com base em estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), indicam que a produção nacional deve estagnar até o final da década, cair pela metade até 2040 e se aproximar de zero em 2050, caso não haja mudanças significativas na política de exploração.
🇺🇸 EUA disparam com petróleo de xisto
Enquanto o Brasil aposta em reservas marítimas de difícil acesso, como o pré-sal, os Estados Unidos basearam sua expansão na exploração onshore (em terra firme), sobretudo no petróleo de xisto (shale oil). Essa técnica, que utiliza o fraturamento hidráulico — conhecido como fracking — é mais barata e mais rápida de implementar.
Desde 2005, os EUA quase triplicaram sua produção, saltando de 5 milhões para 13,5 milhões de barris por dia (bpd). No mesmo período, o Brasil subiu de 1,6 milhão para 3,7 milhões de bpd, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Essa revolução energética permitiu aos americanos sair da condição de maior importador global de petróleo para se tornarem exportadores líquidos, superando Arábia Saudita e Rússia desde 2018.
🛢️ Pré-sal: de promessa a alerta
Descoberto em 2006, o pré-sal transformou o Brasil em potência petrolífera. Hoje, cerca de 80% da produção nacional vem dessas reservas profundas. No entanto, segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o país perdeu uma janela de oportunidade crucial ao atrasar a ampliação da exploração.
“Paralisamos os leilões entre 2008 e 2013 para discutir um novo modelo jurídico. Isso reduziu o número de poços exploratórios e atrasou o avanço da produção. Poderíamos estar produzindo o dobro hoje”, afirma Pires.
Esse hiato, segundo especialistas, coincidiu com o período em que os EUA aceleravam a exploração de shale oil, consolidando sua liderança global.
⚠️ Reservas em declínio e novas fronteiras
Além da maturação do pré-sal, outras áreas produtivas, como a Bacia de Campos, que opera desde 1977, também enfrentam declínio. Diante disso, cresce a urgência de explorar novas fronteiras, como:
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Margem Equatorial (norte do país, próximo à Guiana Francesa)
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Bacia de Pelotas (sul do Brasil, na divisa com o Uruguai)
Ambas são consideradas promissoras, mas enfrentam entraves relacionados a licenciamento ambiental e falta de leilões. Segundo Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o Brasil tem tecnologia para explorar essas áreas com segurança, como já provado no pré-sal.
🧱 Fracking: tecnologia proibida no Brasil
Enquanto países como EUA, China e Argentina avançam na produção de petróleo e gás via fracking, o Brasil proíbe essa técnica em alguns estados, como o Paraná. Além disso, há decisões judiciais que impedem a ANP de realizar leilões para áreas com potencial de shale.
Especialistas defendem que o fraturamento hidráulico é uma tecnologia consolidada e segura, e que poderia ser fundamental para diversificar e aumentar a produção brasileira.
🇦🇷 Argentina: exemplo regional
A Argentina adotou o shale como estratégia energética e já atrai diversas empresas internacionais. Com a reserva de Vaca Muerta, segunda maior do mundo nesse tipo de petróleo, o país de Javier Milei passou a exportar cerca de 50% da produção — vendendo a preços internacionais.
O avanço argentino já começa a representar concorrência direta ao Brasil no mercado latino-americano, segundo Ardenghy, do IBP. No entanto, ele vê a competição como saudável e positiva para a segurança energética da região.
🔄 Soluções e oportunidades
Para evitar a regressão a país importador, especialistas apontam caminhos:
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Retomar e ampliar os leilões de petróleo
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Destravar o licenciamento ambiental
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Avaliar a regulamentação do fracking
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Atrair investimentos estrangeiros, sobretudo da Ásia
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Criar ambiente regulatório estável e competitivo
João Victor Marques, da FGV Energia, destaca que o Brasil pode se beneficiar da demanda crescente por petróleo em países como China e Vietnã, além de assumir papel estratégico após a guerra da Ucrânia, que forçou a Europa a buscar novos fornecedores.
🧾 Impacto econômico mais amplo
O CEO da Gas Bridge, Marco Tavares, lembra que o setor de petróleo tem efeito direto sobre o crescimento econômico. Um estudo da Abrace mostrou que, com gás mais barato, o PIB industrial poderia crescer até 3%. “A indústria química brasileira, por exemplo, amarga um déficit superior a US$ 40 bilhões. Com energia competitiva, isso poderia mudar.”
📌 Conclusão
O Brasil ainda tem chance de manter-se como exportador relevante de petróleo, mas o tempo é curto. Sem novas explorações e investimentos, o país poderá ver sua autossuficiência se esvair e a balança comercial energética se inverter.
A mensagem é clara: ou o Brasil reage com planejamento e pragmatismo, ou se tornará dependente em um mercado que já dominou.