Os Correios devem lançar, nas próximas semanas, um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV) com a meta de desligar pelo menos 10 mil empregados, como parte de um amplo plano de reestruturação para tentar equilibrar as contas da estatal. A informação foi antecipada por veículos nacionais e confirmada por fontes internas da empresa.
A medida faz parte do esforço para reduzir despesas diante da grave crise financeira enfrentada pela companhia, que acumula prejuízos desde 2022 e pode fechar 2025 com um rombo estimado em R$ 10 bilhões. Projeções internas apontam que, sem mudanças profundas, o déficit pode alcançar R$ 20 bilhões em 2026 e até R$ 70 bilhões no horizonte de cinco anos, considerando multas contratuais e passivos com fornecedores.
Empréstimo bilionário com garantia da União
Para atravessar o período de reestruturação, os Correios negociam com bancos públicos e privados um empréstimo de R$ 20 bilhões, que deve ser concedido com garantia do Tesouro Nacional. O presidente da estatal, Emmanoel Rondon, afirmou que o montante será essencial para garantir liquidez e permitir que a empresa volte ao lucro a partir de 2027.
Parte desses recursos será usada para pagar uma dívida de R$ 1,8 bilhão contraída no primeiro semestre, enquanto outra parcela deve financiar a implementação do próprio PDV — medida que, embora reduza custos futuros, requer alto desembolso inicial.
Como será o novo PDV
O programa de desligamento voluntário deverá ocorrer em duas etapas:
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a primeira, com foco em profissionais que cumprem critérios de idade e tempo de serviço;
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a segunda, voltada para áreas ou agências consideradas deficitárias ou com baixa produtividade.
A meta de 10 mil desligamentos é vista como “piso” por gestores ouvidos pela imprensa, e a expectativa é de que o número final possa ser maior, dependendo da adesão. A empresa também negocia com sindicatos questões como o plano de saúde, incentivos financeiros e impactos para trabalhadores próximos da aposentadoria via Postalis, o fundo de pensão da estatal.
Reestruturação incluirá fechamento de agências e venda de imóveis
Além do PDV, o plano de recuperação financeira prevê:
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fechamento ou unificação de centenas de agências, especialmente em locais onde há sobreposição de unidades;
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criação de um fundo imobiliário para capitalizar dezenas de prédios e terrenos ociosos;
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renegociação de contratos com fornecedores;
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ampliação do portfólio de serviços, incluindo novas soluções logísticas e financeiras.
Atualmente, os Correios mantêm cerca de 85 mil funcionários, e os gastos com pessoal representam aproximadamente 72% das despesas da empresa. A estatal também opera cerca de 10 mil unidades, mas apenas 15% delas são superavitárias, segundo levantamento interno divulgado por veículos de imprensa.
Pressão de órgãos de controle
Por envolver recursos com garantia da União, o plano de reestruturação é acompanhado de perto por órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União (TCU). Analistas avaliam que o sucesso do programa depende diretamente da adesão ao PDV e da velocidade na redução de custos — fatores considerados essenciais para evitar o agravamento da crise ou a necessidade de novos aportes públicos.
Risco de privatização volta ao debate
A situação dos Correios reacende discussões sobre uma possível privatização futura. Embora o governo federal não tenha colocado a estatal na lista de empresas a serem vendidas, especialistas apontam que o agravamento da crise financeira pode pressionar o Executivo a rever essa posição nos próximos anos.
