Operação Recepa apura uso de empresas “noteiras”, sonegação de ICMS, lavagem de dinheiro e movimentações bilionárias no comércio de café
Um grupo investigado por fraudes no setor de café no Espírito Santo acumula uma dívida que pode chegar a R$ 2,7 bilhões com o Estado, segundo informações atualizadas da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) e do Ministério Público do Espírito Santo (MPES). O valor inclui ICMS não pago, multas e juros decorrentes de irregularidades cometidas desde o ano de 2020.
A investigação faz parte da Operação Recepa, deflagrada em parceria entre MPES, Sefaz, Receita Federal e Polícia Penal, com foco em um dos maiores esquemas fiscais já identificados no mercado de café capixaba.
Esquema usava empresas de fachada para emitir notas frias
De acordo com as autoridades, o grupo teria montado uma rede de empresas “noteiras”, criadas exclusivamente para emitir notas fiscais falsas e dar aparência legal a operações inexistentes.
Essas empresas eram registradas e encerradas rapidamente — algumas em poucos dias — para dificultar o rastreamento. O objetivo era simular vendas interestaduais, mascarar a origem do café e fraudar o recolhimento de ICMS, causando prejuízo direto aos cofres públicos.
O esquema também permitia que grandes quantidades de café fossem compradas diretamente de produtores, muitas vezes sem nota fiscal e com pagamento em dinheiro, sendo posteriormente “legalizadas” por meio das empresas fraudulentas.
Operação cumpre mandados e prende empresários, contadores e um policial civil
Na ofensiva realizada nos dias 27 e 28 de novembro, as equipes cumpriram:
- 16 mandados de prisão preventiva (14 executados);
- 37 mandados de busca e apreensão, sendo 35 no Espírito Santo, 1 em Minas Gerais e 1 em Sergipe;
- Mobilização de mais de 150 agentes públicos.
Entre os alvos estão empresários do setor cafeeiro, contadores, produtores rurais, operadores financeiros (“laranjas”) e até um policial civil, suspeito de envolvimento no esquema.
A Justiça manteve todas as 14 prisões durante as audiências de custódia.
Prejuízo bilionário e impacto na economia capixaba
A Sefaz estima que apenas as fraudes identificadas inicialmente causaram um prejuízo de R$ 400 milhões ao Estado. Com os cálculos atualizados, considerando todas as infrações e correções, a dívida total do grupo investigado chega a R$ 2,7 bilhões.
O Espírito Santo é o maior produtor nacional de café conilon, e o esquema afetava diretamente a cadeia produtiva, criando concorrência desleal e distorcendo preços no mercado.
Além da sonegação, o MPES aponta indícios de lavagem de dinheiro, movimentação financeira incompatível com a atividade declarada e uso de empresas em nome de terceiros.
Investigações continuam e nomes seguem sob sigilo
O caso segue sob segredo de Justiça e, por isso, os nomes das pessoas e empresas investigadas não foram divulgados oficialmente. O MPES informou que novas fases da operação podem ocorrer conforme avançam as análises de documentos, notas fiscais e movimentações financeiras apreendidas.
A Operação Recepa é considerada uma das maiores ofensivas já realizadas contra fraudes no setor cafeeiro capixaba.
